“Por enquanto o mercado opera principalmente com a sensação do ado. O Lula tem essa dinâmica de mais gastos, de ações mais populistas, e o resultado que a gente viu nesses primeiros dias foi o mercado operando exatamente essa expectativa”, avalia a economista Ariane Benedito, especialista em mercado de capitais.

Para Carlos Macedo, sócio e especialista em alocação de investimentos da Warren, as estatais ainda devem apresentar volatilidade na precificação nos próximos meses. “Mesmo com os sinais [de Lula] ao centro, o receio de maior intervenção continuará afetando as ações até maior clareza sobre as medidas econômicas e ministros”, diz.

“No caso do Banco do Brasil, essas questões [incertezas] giram em torno das linhas de concessão de crédito subsidiadas. Para a Petrobras, as principais questões são em relação à futura política de precificação de combustíveis, bem como seus programas de investimentos futuros”, diz relatório da XP Investimentos.

A principal especulação a partir de agora diz respeito ao nome que deve conduzir a política econômica do país a partir de 2023. No mercado, paira a expectativa de que o ex-ministro e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles assuma o Ministério da Economia, embora ainda haja outros nomes cotados à pasta.

Em um levantamento feito pela Warren com 120 gestores de ativos, estrategistas e economistas de bancos e fundações, 40,8% disseram acreditar que Meirelles assumirá a posição. Outros nomes citados incluem Wellington Dias (10%), Rui Costa (9,2%), Armínio Fraga (8,3%), Fernando Haddad (7,5%), Aloízio Mercadante (4,2%), Guilherme Melo (3,3%) e Gabriel Galípolo (0,8%).

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“Acreditamos que a volatilidade pode seguir alta e talvez aumentar nas próximas semanas, dada a incerteza quanto à política fiscal do novo governo, bem como quais serão os nomes da nova equipe econômica de Lula.”

Para além do nome do futuro ministro e de sua equipe, há a indefinição sobre a política fiscal que será adotada pelo novo governo. “Assim que for nomeada a equipe econômica, começar uma cobrança forte do que vai vir pelo fiscal, e especialmente como vai ficar a questão dos auxílios”, diz Ariane.

“O presidente eleito diz que haverá uma reforma no Auxílio Brasil, que volta a ser Bolsa Família, que haverá aumento do salário mínimo. Só que isso não foi colocado na conta. Em contrapartida, há uma proposta de redução no Imposto de Renda. Como você tem mais gastos e redução de imposto? Então o fiscal é o drive mais delicado que a gente tem de uma possibilidade negativa para a bolsa”, explica.

Uma das medidas que já é dada como certa no novo governo é a revogação do teto de gastos, que limita o aumento de despesas a cada ano à inflação. Com o arcabouço fiscal vigente, não seria possível a Lula cumprir promessas como a manutenção do valor de R$ 600 do Auxílio Brasil, a valorização real do salário mínimo ou a criação de um novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê aumento nos investimentos públicos em obras de infraestrutura.

A mudança na regra fiscal, no entanto, exige a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC), o que, por sua vez, demanda uma negociação com o Congresso eleito para 2023. “Isso significa que, desta vez, Lula precisa montar a equipe econômica mais rápido do que o habitual. Talvez ainda esta semana”, dizem os analistas da XP.

“Além da nova equipe econômica e da discussão sobre o teto de gastos, outras questões que investidores estarão atentos são as reformas econômicas – principalmente a reforma tributária – e qual será o modelo de concessões de infraestrutura para o setor privado. Mas esses são assuntos menos urgentes, e não esperamos nenhuma informação relevante sobre essas frentes até o início do mandato no ano que vem”, acrescentam.