A educação no Paraná é uma situação complicada. O que esse governo faz é desmontar a educação, entregar dinheiro público para a iniciativa privada, não valorizar os servidores da educação. Fui professora da rede estadual, professora de Sociologia PSS em uma situação em que os professores PSS são, cotidianamente, a cada contrato, humilhados para conseguir emprego. Nós estamos há dez anos sem concurso público para professor, para trabalhador da educação efetivo no estado do Paraná. E, aí, o governo faz o quê? Militarizou as escolas. E a gente já vê uma série de problemas com as escolas militarizadas, porque educação não é questão de polícia. Educação precisa ser estruturada valorizando seus servidores e professores. A escola precisa ser atrativa para os estudantes, para os filhos dos trabalhadores. Mas a gente tem o que? Uma militarização, uma reforma do ensino médio, a contragosto dos estudantes do Paraná que construíram a maior ocupação que existiu de escolas no Brasil, em 2015, época em que eu era professora, inclusive. A proposta da reforma do ensino médio, que é fazer o ensino técnico, se demonstra hoje uma verdadeira política desastrosa de injetar dinheiro público na iniciativa privada. Como pode ser atrativo um estudante ir para a sala de aula e ter que assistir um ensino técnico a partir das televisões que existem nas escolas do Paraná? Você está ali sentado dentro da sala de aula, assistindo a algo profissionalizante a partir da TV? E tudo a partir de contratos precários, um contrato milionário para a Unicesumar, que paga R$ 640,00 para 20 horas aulas para monitores que não têm ainda uma formação acadêmica completa ou, ou seja, substitui professores da rede e rebaixa a força de trabalho, né? Antes, o gasto com PSS era de R$ 18 milhões. Agora, nas mãos do setor privado, o estado do Paraná gasta R$ 30 milhões para ter menos funcionários do que tinha antes por salários e condições piores das que já existiam. Então, hoje, a gente tem um déficit de 30 mil professores na rede estadual. O último concurso foi em 2013. E, a cada seis meses, fica tentando renovar os PSS, submetendo-os a essa situação de humilhação para conseguir emprego. A última foi de ter que gravar vídeo para mostrar o desempenho de como seria em sala de aula. O professor ele não é youtuber. O professor tem que ir para a sala de aula e ter condições dignas de trabalho, condições de salários dignas para sobreviver. A outra coisa para fechar esse ponto, é que a gente tem um Estado que anunciou R$ 7,2 bilhões de superávit, em 2021, e a renúncia fiscal, em 2022, é de R$ 17,4 bilhões. Isso é dinheiro que deveria estar indo para saúde e educação.

O estado do Paraná tem um certo privilégio se comparado a outros estados do Brasil na questão do IDH e do desenvolvimento econômico. No entanto, isso se restringe a algumas regiões do estado. Há, aqui, regiões que são verdadeiros bolsões de pobreza. Com descentralizar esse desenvolvimento e uniformizar o crescimento do estado?

Primeiro, é importante falar desses dados. O Governo do Estado do Paraná trabalha com muitos dados para dizer que o Paraná é muito diferente dos outros estados do país. E aí parece que as coisas aqui são todas maravilhosas, quando na verdade, ainda que a gente tenha 470 mil desempregados, que é menor que os outros estados, a renda média do trabalhador encolheu 10,7% em um ano. Então, o trabalhador, quando vai ao supermercado, sente concretamente que o seu poder de compra diminuiu drasticamente. Então a gente tem aqui hoje um estado que é o maior criador de aves do país e mesmo assim a população paranaense está comendo vina, quando consegue. Farelo de feijão, arroz e café com preços absurdos. Então, esses dados, na materialidade quem sente mesmo é o trabalhador. E aí, nesse sentido, é importante uma política que consiga desenvolver o estado de uma forma minimamente igualitária, porque os municípios do interior são deixados de lado. Se a gente for pegar as regiões que são as regiões de ponta do agronegócio, é um montante de dinheiro gigantesco, mas com muitos problemas estruturais. A outra coisa é o desenvolvimento do estado do Paraná e valorização dos municípios e romper com a lógica do Ratinho de destruir as coisas para privatizar. O que esse governo faz é pegar empresas públicas que deveriam ser patrimônios públicos e garantia de soberania nacional para o povo paranaense e entregar à iniciativa privada. São quase R$ 200 milhões de dinheiro público gastos com empresas de terceirizadas. Isso é terrível. O que é a Copel Telecom, que foi privatizada depois de gerar lucros gigantescos para o Estado? Como é que você vende uma empresa que é altamente lucrativa, reconhecida nacionalmente pelo excelente serviço que entrega? A própria Sanepar? Então, as empresas públicas do Paraná precisam ser valorizadas. E isso são coisas que o próprio capitalismo, em outros lugares do mundo, já viu que precisam ter empresas estatais que gerem serviços de qualidade e que sejam geridas pelo próprio Estado. Então a nossa proposta é a reestatização da Copel Telecom; Sanepar e Copel 100% estatal sob controle de controle popular; criação de uma companhia estadual de construção civil que vai estimular geração de emprego, avanço nas obras públicas de grande e pequeno porte; adoção de um programa de obras públicas, de saneamento, habitação, de reforma das escolas e hospitais. Só é possível crescer um Paraná para os trabalhadores se as decisões políticas forem tomadas em coletivizadas pelos próprios trabalhadores.

Nós já estamos quase encerrando, mas tem uma questão que o próximo governador deverá herdar, que é um tema político dos últimos 30 anos do Paraná, que é o pedágio. A senhora já se posicionou contrária a esse modelo de pedágio. Que modelo pretende fazer? Vai revogar tudo o que foi construído nos últimos anos?

É importante dizer que a gente sai de um contrato, de 24 anos de concessão com os pedágios mais caros do país. Para nós, tem que romper com a lógica de concessão. É preciso a estadualização das rodovias, que esse serviço, que o ir e vir seja garantido pelo estado do Paraná para a classe trabalhadora. No início dessas eleições, o governo anunciou, na maior boniteza, que o pedágio ia ser livre. Estratégia de eleição, quando, na verdade, já tem um contrato praticamente assinado de mais 30 anos de concessão, onde a ANTT já disse que vai ter um aumento de 30% do valor reado para a classe trabalhadora paranaense no ir e vir. Para nós precisa ter pedágio zero. A gente precisa ter o do ir e vir garantido pelo Estado.

E como seriam feita a manutenção e as melhorias nas rodovias, apenas com o dinheiro dos impostos?

Exato. O que o liberalismo nos faz pensar é “mas olha falta dinheiro para isso, falta dinheiro para aquilo. Vocês acham que o dinheiro do Estado é infinito?” Não. A gente acha que o dinheiro do Estado, que é o dinheiro financiado pelos trabalhadores, porque são eles que pagam o maior imposto, não são os bilionários, não são os milionários, precisa ser executado pela própria classe trabalhadora. Então, acabei de dizer para você que tem uma isenção fiscal de R$ 17,5 bilhões, isso é uma grana gigantesca. É preciso priorizar aquilo que é a real necessidade dos trabalhadores e das trabalhadoras. A gente coloca que o fim dos pedágios e a estatização das rodovias estaduais com o fim das concessões é fundamental.

Para encerrar, queria deixar um minuto para você dizer para o eleitor, para o que ele deve votar em Vivi Motta para governador do Paraná.

Bom, queria dizer que esse programa que o PCB apresenta é um programa que foi elaborado pela militância do partido, um partido que tem 100 anos ao lado da classe trabalhadora brasileira. O nosso programa é um programa de um compromisso inegociável com os trabalhadores e com a juventude, a população explorada e oprimida do Paraná. Ele tem por meta a vida acima dos lucros, por pão, trabalho, moradia digna, plena participação organizada e coletiva do trabalhador na política e em tudo o que nos é de interesse. Quando a gente diz que esse não é um programa para todos, mas sim um programa de governo, para os trabalhadores e para os trabalhadores, a gente está dizendo que é um programa para os 99% que produzem a riqueza nesse país, riqueza essa que está concentrada em 50% na mão de 1%, que é aquilo que a gente chama de burguesia. Então, para que esse programa seja possível e realizável, é preciso, para além do voto, uma ampla mobilização da nossa classe, da classe trabalhadora paranaense. Para além disso, esse é um programa de organização e de luta. As eleições vão ar e os trabalhadores vão ter que estar organizados para cobrar aquilo que lhe é de direito. Então, gostaria de pedir o voto e dizer que, para além de votar, para nós é importante que estejamos organizados em coletivos, em coletivos feministas, em coletivos negros, em coletivos sindicais, em luta por moradia, em luta por saúde, por educação, nos sindicatos, nos DCEs e nas entidades estudantis.

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