O que não se pode precisar, no entanto, não são fatores econômicos: são fatores militares. Quando a invasão russa começou, analistas diziam que era questão de dias até que os russos tomassem o país. A defesa ucraniana, que aos poucos foi recebendo armas novas e modernas dos países ocidentais, prosperou contra um inimigo que demonstrou estar muito aquém do esperado. 4z1950
Imagens recentes de soldados russos no Donbass mostram equipamentos militares velhos, fardamento incompleto e pessoas cansadas e assustadas. Os ucranianos, por outro lado, movidos seja por patriotismo, instinto de autopreservação ou desejo de vingança, lutam ferozmente. Muitas vezes, não são nem as tropas e artilharia russa que são diretamente atacadas, mas suas longas filas de suprimentos. Os drones estadunidenses e turcos, a propósito, têm sido um desestabilizador para os russos e uma vantagem aos ucranianos. Os mísseis antinavio dinamarqueses e obuses autopropulsados estadunidenses também têm impedido a vitória russa.
Nas últimas semanas, houve avanços e retrocessos em ambos os lados, o que impede especular uma data para o fim do conflito na Ucrânia. Há alguns meses, os russos vêm incentivando o alistamento militar de seus cidadãos em campanhas midiáticas que parecem não dizer a verdade sobre a real situação das tropas lutando no exterior. Boa parte das agências de inteligência do mundo questiona o número oficial de mortos e feridos anunciado por Moscou, apontando como certo que morreram e se feriram 10 vezes mais do que o divulgado oficialmente.
Nesse estágio da guerra, precisamos olhar além da Ucrânia: a desastrosa visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, despertou a ira dos chineses. Pequim, até então, tem apoiado os russos, ainda que de forma apenas retórica. Se os desentendimentos com EUA e Taiwan continuarem, os chineses podem pender em definitivo para o lado dos russos, enviando armas que são tão necessárias às tropas de Putin nesse momento. Isso sim poderia terminar a guerra em breve – mas não de forma positiva para os europeus.
João Alfredo Lopes Nyegray, doutorando em estratégia, é coordenador do curso de Comércio Exterior e professor de Geopolítica e Negócios Internacionais na Universidade Positivo (UP).