Quem vê uma enxurrada de discursos falando sempre a mesma coisa pode pensar que esse discurso é o da maioria, ou melhor, o único “correto”. Ora, humanos são seres sociais – alguns menos, outros mais, mas, a não ser no caso de psicopatia, as pessoas se importam com o que os outros pensam, sentem, falam. Quando você acha que sua opinião é a minoria ou uma “opinião errada”, você pode ficar mais tentado a mudar de opinião e aderir ao discurso dominante ou, pelo menos, deixar de expressar sua opinião. Não há nada de errado aqui; é um fenômeno natural, de sobrevivência em sociedade.

Num contexto ideal, o aborto (e qualquer outro tema de importância) seria tratado no espaço público de forma plural, com a apresentação de argumentos prós e contrários, exposição e debate de seus múltiplos aspectos, especialmente aqueles de grande envergadura, como o moral, ético e religioso. Depois disso, nesse contexto idealizado, as pessoas teriam mais condições de chegar a uma conclusão, mantendo ou alterando seus posicionamentos iniciais e expondo sua opinião. Se eu vejo que as opiniões diversas são tratadas com respeito, não tenho medo expressá-las.

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Isso aconteceria num mundo ideal, mas, obviamente, aqui no mundo real, a coisa é bem diferente. O que mais vemos é o discurso unilateral, as falas batidas, as Rosas Webers achando que estão abafando em seu voto “histórico”, como foi chamado pela imprensa de sempre. E a opinião de quem difere disso permanece espremida entre o risível e o irrelevante – mesmo sendo, como insisto, a opinião e convicção da maioria dos brasileiros.

É por isso que é tão importante valorizar e fazer crescer os espaços na mídia que se colocam como contrapeso a esse “monobloco do pensamento”: sim, há veículos de comunicação, jornais, revistas, canais, que dão espaço para o outro lado, que não têm medo de dizer que o aborto não é uma mera questão de saúde pública, que, sim, a moral e a ética importam e precisam ser discutidas. Quanto maior o número de pessoas percebendo que não estão sozinhas, que sua convicção de que o aborto não é só uma questão de saúde, que há outros aspectos muito mais profundos que precisam ser considerados, mais força elas têm para dar voz a essa opinião e inverter a ideia distorcida de que a única posição correta sobre o aborto é aquela dos lacradores de plantão. A Rosa Weber não precisa ser a porta-voz de ninguém.